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Engenheiro Agrônomo, Prefeito de São Vicente (PSB), Presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica da Baixada Santista.

O Paradigma da cultura.
Tércio Garcia*

Ao longo de milênios o processo cultural é nascido, produzido e apresentado pelo povo, nas camadas mais baixas da sociedade.
Na Grécia antiga o processo cultural brotava nas ruas e se espalhava como rastilho de pólvora entre este mesmo povo. Assim, dependendo da capacidade disseminadora de cultura que cada povo possuía a civilização crescia e aquele povo passava a determinar a cultura no velho mundo.
Hoje parece que o processo cultural é absolutamente elitizado. Nasce nas camadas mais altas da sociedade, é produzido a partir de vultosos investimentos financeiros e imposto a uma sociedade que se torna cada vez mais consumista, não da própria cultura, mas daquilo que o interesse econômico defina como cultura, ou que, de alguma forma, aqueça a venda de determinados produtos, portanto gere riqueza financeira e não cultural. Produzir cultura a partir das camadas mais humildes da sociedade me parece à única forma de restabelecer a importância das culturas regionais, do enriquecimento de um povo enquanto povo e da afirmação cultural nacional perante o mundo.
Com algumas iniciativas pontuais, movimentos culturais se destacam no país, é verdade. Notadamente a cultura nordestina, a região norte com o internacional boi de Parintins e a cultura sulina com suas bombachas e chimarrões. Entretanto e região sudeste, precursora da nação, não consegue produzir cultura de raiz.
É talvez a maior tarefa, no âmbito cultural, dos poderes públicos, devolver a cultura ao povo, na sua origem e no seu destino. Fomentar iniciativas culturais nos bairros pode ser um bom caminho.
Processos como o da Encenação da chegada de Martim Afonso e Fundação da Vila de São Vicente levam efetivamente a cultura ao povo, tem origem nele, são produzido por ele e apresentados a preços populares para o seu acesso.
Mas cultura não é só história, novas ações no sentido de levar aos bairros as artes cênicas através de teatros e cinemas ao ar livre e gratuitos, passam a representar o “start” cultural que a região precisa para a criação de agentes precursores. Produzir gente com consciência crítica cultural é como a primeira chama de uma fogueira que arderá forte e para sempre. A quebra do paradigma da produção cultural apenas a partir de altos investimentos financeiros pode ser ainda estimulada pela farta instalação de pontos de leitura livre ou por outras tantas ações que tenham o foco na produção de agentes capazes de criar cultura a partir de cultura.
Só assim fixaremos aquilo que realmente somos como símbolo de uma nação que cresce rumo ao futuro, mas não se esquece da sua origem.
*Tércio Garcia é engenheiro agrônomo, prefeito de São Vicente.

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