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Engenheiro Agrônomo, Prefeito de São Vicente (PSB), Presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica da Baixada Santista.

Os homens que a sociedade não quis.
Tércio Garcia*
A população adulta de rua, em São Vicente, tem características muito bem marcadas e tão claramente tipificáveis que cabe uma analise dos caminhos que a sociedade escolhe e onde eles nos levarão.
Acredito que o perfil encontrado nas ruas de São Vicente, embora fale de uma população numericamente muito reduzida, pode ser compreendido como correspondente ao de qualquer outro universo em qualquer outra cidade do Brasil. Pode variar na relação, que no nosso caso é de 0,03% da população total, mas no perfil não haverá grandes diferenças.
Para que iniciemos nossa análise vamos saber que 90,4% da população de rua é composta por homens, sim, o sexo forte aparentemente, diante das complexas questões da vida em sociedade, mostra a sua condição de fragilidade.
Novamente o percentual aparece quando analisamos segundo a idade. 90% se encontram entre 18 e 50 anos, ou seja, em pleno vigor do seu período produtivo de vida.
Outra característica tão marcante quanto às anteriores é que 76,3% são solteiros e se somam aos 10,5% separados para claramente explicitar a importância das mulheres na vida dos homens.
Quanto à escolaridade, 92,2% estudaram muito pouco, têm do ensino fundamental incompleto ao ensino médio incompleto e 89,5% são declaram-se desempregados.
Para finalizar nossos números, 43% são alcoólatras e outros 38,6% são usuários de drogas.
A primeira e necessária conclusão é a de que a sociedade, ao menos no que diz respeito ao abandono, compreende melhor às mulheres do que aos homens, atendendo com mais satisfação às suas demandas pessoais e afastando-as com mais competência das ruas.
Fica patente que a união estável entre duas pessoas é o principal fator de equilíbrio da sociedade visto que 86,8% são solteiros ou separados. De alguma forma a sociedade precisa reencontrar o caminho da formação da família, do respeito que os filhos devem aos pais, do respeito que os pais devem aos filhos, do compromisso familiar que pressupõe que a felicidade do outro é complemento da própria felicidade e sem que uma seja plena a outra inexiste.
O resumo do perfil da população de rua aponta para um homem, sem vínculos afetivos, em idade produtiva, de baixa escolaridade, sem vínculos trabalhistas, alcoólatra ou usuário de drogas. Cerca de 90% dos casos se encaixa nestes parâmetros.
É preciso deixar claro que, em sua maioria, são pacíficos, vivem de esmolas e não de furtos ou roubos. Não são criminosos, são pessoas excluídas das possibilidades de uma sociedade formal. Os motivos em quase todos os casos são ligados a questões de ordem afetiva familiar. Brigas entre pais e filhos, brigas entre maridos e esposas, enfim desagregação familiar em suas diversas formas de manifestação.
O desafio da reversão deste quadro não é só do poder público. Cabe sim ao estado institucional o tratamento dos que já tiveram suas vidas seqüestradas pelas contingencias do seu passado, cabe o abrigamento e acolhimento daqueles que já se encontram em situação de rua. Entretanto só uma sociedade capaz de enxergar onde está a raiz do seu problema será também capaz de resolvê-lo.

*Tércio Garcia é engenheiro agrônomo, prefeito de São Vicente, e Presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica da Baixada Santista.

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